quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Praga em Metamorfose


Nome: Praga/Prague
País: República Tcheca/Czech Republic
Língua Oficial: Tcheco
Moeda: Coroa/Koruna


Chegando em Praga de Trem partindo de Berlim

A estação de Berlim é enorme e por ser época de verão estava absolutamente lotada, porém como eu já havia chegado por lá, tive a vantagem de conhecer mais ou menos, embora não fosse muito difícil encontrar uma plataforma de trem depois que você pega tantos. O único problema mesmo é que não havia assento na nossa passagem, e isso só me lembrou de um casal de brasileiros no trem para Berlim que tinha que ficar constantemente mudando de assento porque sempre chegava o dono do lugar. Achei uma cabine e fiquei por lá, com uma senhora que não falava inglês. Mais tarde um casal de suíços (que eu conversaria mais tarde) e um casal de alemãs (acho) completaram o vagão.

Numa viagem longa como essa você acaba tendo que conversar com alguém, senão vira insuportável. Os suíços também estavam viajando, porém com o passe de trem da Interrail que eu até cogitei comprar pra essa viagem mas acabei desistindo por não ter conseguido achar informações o suficiente. Nessa viagem meu objetivo com os suíços era descobrir porque a Suíça era neutra e não fazia parte da União Européia. Toda vez que encontrava um, eu perguntava. Felizmente esses souberam me responder. A Suíça tem uma moeda muito forte, então se eles entrassem na União Européia iriam perder essa vantagem ao migrar pro euro, e basicamente ele falou que o país já é independente o suficiente e não quer entrar no bloco.

O momento mais tenso da viagem foi quando um cara de fedia igual à 40 anos sem tomar banho, entrou na cabine e deixou a bagagem dele. Tinha um lugar vazio mesmo, porém todo mundo já tava pensando no caos que ia ser se aquele homem entrasse naquela cabine completamente fechada. Felizmente, acho que ele tinha noção do 'odor' liberado por si próprio (o que me deu pena do coitado) e ficou no corredor o tempo inteiro. A questão é que se ele decidisse entrar na cabine, eu teria um espontânea e repentina vontade de passar o resto da viagem no corredor, pra não dizer que eu ia sair correndo pra respirar oxigênio puro do lado de fora da cabine.

Finalmente chegamos à Praga. Me despedi dos suiços que não iriam ficar no mesmo hostel que eu, infelizmente. Cansado de tanto pegar transporte público pra chegar no hostel, porque as vezes não é tão longe assim, mas principalmente pela vontade de economizar, decidi ir a pé da estação até o hostel. Olha, Praga é muito pequena, e eu não me arrependo um tico de ter feito isso, porque meu hostel era bem no centro da cidade e acho que não gastei nem 15 minutos da estação até lá.

Hostel

Aliás, o hostel era muito bom. Ele se chama Hostel Prague Tyn. O meu quarto era muito quente porque tinha um exaustor apontado pra ele, mas era uma calor absurdo, ainda mais do que senti em Berlim, e o único jeito de dormir a primeira noite foi molhando a toalha pra por sobre mim, embora eu tenha acordado com trovões no meio da noite da gigantesca tempestade que ocorria lá fora. Os banheiros masculinos não são bons porque a entrada fica fora dos corredores, na escada, e são pra duas pessoas. A questão é que são poucos banheiros e tem sempre gente entrando pra achar uma vaga. Fora esses detalhes, o hostel era excelente. Café da manhã muito bom, recepcionista bastante disposta a ajudar, tinha até computador pra usar internet se quisesse, internet rápida, aliás.

Culinária Tcheca

Com o pé fora do hostel, comer era a primeira necessidade e o restaurante indicado me veio com um "Você tem mesa reservada?" Eu sinceramente reflito se a pergunta é de prache ou se foi uma tentativa de intimidar um turista de bermuda e sandálias. Uma vez na mesa, preços bem interessantes, embora eu não tenha dado sorte com o prato que escolhi, e agora corra de qualquer coisa que envolva dumplings. Após mais alguns minutos de negligência dos garçons, pedimos a conta. Nos foi deixado BEM claro que a gorjeta não estava inclusa, e claro eu saí feliz e satisfeito de saber que nenhum centavo além do ordenado ficaria naquele estabelecimento. (Sim, dar gorjeta foi algo que aprendi a fazer e a entender) 

Aí você me diz que com certeza isso foi um caso isolado de um pub metido com meia dúzia de garçons, e talvez eu até concorde se você estiver se referindo ao mau atendimento. Não vi na cidade - pelo menos no centro - nenhum restaurante que proporcionasse um clima despojado ou sequer tivesse como público alvo um público mais estudantil - com exceção do proposto pelo Free Walking Tour que por acaso era caro. 

A verdade que eu tirei foi que Praga é uma cidade para ostentar. Quer comer em um lugar que não um fast food? Arrume-se e vá disposto à esperar por uma mesa. Não esqueça do seu Rolex ou do colar Swarosvisk. Lembra que em Amsterdã eu tinha que desviar das bicicletas? Agora eu desviava de conversíveis. O pior é que, como eu disse, os preços não são absurdos, são é muito em conta se você converter. Paguei o mesmo valor da conta no restaurante quando comi um sanduíche e refrigerante no Subway. (McDonalds oferecia deals bem interessantes) Bem, tendo xingado os restaurantes metidos e esse "clima" de Praga, só vem coisa boa.

Obs.: Eu realmente torço que minha opinião seja extremamente equivocada, até porque comi em mais um restaurante, não despojado, mas com atendimento simpático. Talvez se eu tivesse procurado melhor, teria achado lugares mais despojados.

Roteiro

Old Town Square
O dia começou mesmo logo cedo no Free Walking Tour da Sanderman's. Sim, de novo; E não, não é propaganda. O tour começa na Old Town Square que fica bem no centro da cidade. O dia já começou surpreendente quando nos foi explicado porque Praga é tão bem conservada, e de fato é uma das poucas cidades da Europa que você vai e não encontra nada em restauração. Houveram boatos que Hitler queria se aposentar lá. Legal não? Obviamente, se ele gostava da cidade era pra deixar inteira, e não destruir. Eu já não estava com uma visão legal de Praga, e esse fato não melhorou, sinceramente. Ok, não é culpa da cidade e tal, mas mesmo assim.

Old Town Square
Eu até me considero uma pessoa que consegue ler mapas bem, só que era simplesmente impossível seguir um caminho pelo mapa, porque as ruas tem formatos muito irregulares e mudam de nome do nada, e na junção com outras aí é que lasca tudo porque você já não sabe mais quem é quem. Solução? Pra caminhos eu tenho uma boa memória - já pro resto das coisas importantes do mundo, minha memória me sacaneia - então decorei as idas e vindas de cantos que eu teria que passar, claro, porque você entra num beco aqui, passa por dentro de uma galeria ali e assim vai.

Old Town Square vista da Old Town Hall
Eu esqueci de tirar pelo menos uma foto, mas o guia falou que antigamente as ruas não tinham nomes como agora, mas ao invés disso tinham placas de animais, inclusive uma das ruas que passa na praça era a do unicórnio. Então, Zé, você segue no Cavalo, e quando tiver bem no finalzinho entra no Cachorro, aí você vai passar pelo Boi e pela Cobra, mas quando chegar no fim, já vai estar no Peixe. Entendeu?

Old Town Square vista do Old Town Hall
Eu tenho quase certeza que foi em Praga durante uma invasão que os moradores tiraram as placas com os nomes das ruas pra dificultar a entrada do exército inimigo, o que foi genial, porque eu te digo, se com nome, com mapa, com gente pra pedir informação já é difícil, sem nada disso é um labirinto.

St. Nicholas Church à esquerda e Tyn Church à direita ao fundo
Ainda falando sobre a praça, há nela duas Igrejas: a St. Nicholas Church e a Tyn Church.

St. Nicholas Church
A Tyn Church antes de chamada de The Church of Our Lady tem uma singularidade que me fez lembrar dela. Há uma torre 7 centímetros maior que a outra, proposital ou não eu já não sei, mas a questão é que a torre maior é chamada de Adão e a menor de Eva. 

Tinha um cara divertindo as crianças com bolhas, ele me divertiu mesmo sem
saber já que eu tava querendo tirar uma foto com as bolhas :x
Ângulos
Tyn Church vista da Old Town Hall
Esperando pra ser descoberta, há placa que registra que Albert Einstein professor da Universidade de Praga, a universidade mais velha da Europa, se eu não me engano, por um ano, tocou com os amiguinhos Max Brub e Franz Kafka. 

Oi Albert!
Os tchecos são legais (caso eles estejam lendo isso) mas antigamente eles tinham um hábito estranho de resolver diferenças jogando os amiguinhos, quer dizer, os não amiguinhos pela janela. Você pode encontrar vários desses incidentes na história tcheca, mas um em especial ficou marcado nessa praça que eu não paro de falar. Basicamente 27 nobres estavam bem insatisfeitos com a regência política quando foram lá atrás dos ditos cujo e arremessaram pela janela. Esse arremesso geralmente era mortal, mas acabou que os danados dos políticos sobreviveram e foram reclamar com sua vizinha Vienna. Pra dar uma lição na nobreza, simplesmente enforcaram os 27 nobres. Hoje na praça você pode encontrar 27 'x' registrando o acontecimento.

Aquele tipo de coisa que ou você sabe, ou não sabe
Só falta uma coisa para eu largar de vez a bendita praça Old Town Square, prometo. Acho que provavelmente vocês já ouviram falar do Astrological Astronomical Clock. Antes de sequer pensar em ir à Praga, eu já tinha visto umas fotos dele e já tinha marcado na minha lista do tenho que ir um dia. Como um bom engenheiro, claro que eu queria saber todo o funcionamento do relógio e o significado por trás de cada ponteiro/pintura/posição. Primeira decepção: o conceito usado no relógio foi errado porque eles acreditavam que a Terra ficava no centro do universo, infelizmente. 


Eu, mostrando porque tinha vindo!
Desconstruindo o relógio. Na parte de cima, temos um galo de ouro e as portinhas por onde saem o 'cuco' desse tipo de máquina. Só que em vez de um pássaro são os 12 apóstolos que passam por lá cada um carregando algo pra dar de presente ao menino Jesus. Clássico. 


Nessa parte já tem bem mais coisa e nem faz sentido explicar porque ele não aponta pras coisas certas, porque como já disse foi baseado na teoria errada. Enfim, tem os ponteiros que mostram a posição do Sol e da Lua, os signos e mais coisa ainda. Atentem pra esses bonequinhos, dois de cada lado, pois eles representam pecados que desvirtuam o caminho do homem.


Aqui não dar pra ver, mas esses 'borrões' pretos no círculo branco externo são nomes. Foi dito que há 365 nomes, um pra cada dia do ano, e se for seu nome você comemora o/ Depois vou dar uma olhada pra ver se acho o meu.

O apreço que a cidade tem pelo relógio é o fato dele ser bem antigo, completando recentemente 600 anos. Ele é todo mecânico, e esses bonequinhos todos mexem e tal. Pra algo que foi construído em 1400 e um pouco imaginem o sucesso que não foi na época. Logicamente, o criador dessa obra deve ter ficado rico e altamente conhecido né? Altamente conhecido sim, porque pra mostrar a extrema gratidão pela criação do relógio, o rei cortou a língua e cegou os olhos do coitado. O rei gostou tanto do relógio que não queria que o criador fizesse outra réplica pra nenhum outro lugar do mundo.

É um absurdo tão imenso que eu fiquei entre um riso e um grito de ódio.


Ok, saí da praça. Nas ruas de Praga olha só o que eu encontrei. Um dementador aposentado, cansou dessa vida de sugar as almas do pessoal e agora é conselheiro amoroso, dizem que beija bem pra caramba, mas aí foi só o que me disseram!

Apelido: Hitch!

Depois de tanto conhecer museus, nessa viagem por opção decidi evitá-los :S 


National Museum
National Museum
Pra quem gosta de uma história macabra de leve porque existe essa categoria, claro aqui vai uma. Era uma vez um ladrão que decidiu roubar um lindo colar que ficava no pescoço da virgem maria. Certa noite, ele decidiu invadir a igreja, e tudo ia dando certo até ele chegar bem perto do colar...



Já com a mão no colar, quando estava a tirá-lo do pescoço da estátua, repentinamente o que era pedra ganhou vida e agarrou a mão do ladrão. Ele implorou para que a estátua a soltasse mas ela já não respondia. Ele esperou o Padre abrir a igreja e resolver tudo aquilo. Explicou o que havia acontecido e suplicou a ajuda do Padre, e então ele respondeu: "Vamos ter que cortar essa mão, para deixar a outra livre." O ladrão aliviado agradeceu e perguntou como ele faria para quebrar a mão da estátua. "Ah, não seja tolo meu caro rapaz, a mão que será arrancada será a sua e não a da estátua."

Para os descrentes, ou para qualquer um que cogite roubar a igreja, basta adentrá-la e ver a mão pendurada logo na entrada da mesma! Vai encarar?

Mãozinha mãozinha HEY! Mãozinha mãozinha HEY! Mão na cinturinha e desce desce desce desce.
Essa igreja por acaso ficava perto do hostel onde eu estava, e quando passei a primeira vez na esquina que ia chegar nela, vi um grupo de turismo falando bem baixinho. Já imaginava que o negócio era sério por aquelas bandas e achei melhor acelerar o passo. Mais tarde ouço essa história, e não tiro mais as mãos do bolso só por precaução. Sempre!

Prédio Cubista
Praga tem outra singularidade. Quando surgiu o movimento cubista, eles decidiram não só aplicar as telas, mas também construir prédios nesse estilo. Ainda inspirado no cubismo, há um café no prédio em que tudo é cúbico, pelo menos foi o que o guia me contou. Ele falou que só não garantia o vaso sanitário, mas as xícaras, cadeiras, açucar e tudo mais seria. 

Café Cubista
Já estava mais que na hora de ir conhecer o Castelo de Praga. O maior castelo medieval do mundo. Para chegar até o castelo, primeiro temos que cruzar o rio por uma de suas pontes, mas por motivos óbvios, todos escolhem a Charles Bridge. Um ponte antiga não tem como ser surpreendente, tem? Tem. A cada trecho duas estátuas, uma de cada lado, decoram a passagem daqueles que por ventura precisam atingir a outra margem. Pintores, artistas e até uma banda com repertório anos 40 unem-se para replicar um clima totalmente saudosista. Ponte cruzada e admirada, só uma parada antes de começar a escalada até o topo do castelo: John Lennon's Wall.

Charles Bridge vista de outra ponte.
Melhor combinação de estátua com o Castelo.
O que não faltavam eram estátuas hipnotizantes à se olhar.
Lennon Wall ou John Lennon Wall um dia já foi uma parede normal pintada com o desenho de John Lennon e alguns trechos de músicas dos Beatles. Só que essa simples parede serviu de apóio para estudantes durante o comunismo, proporcionando um clima inspirador que os fez escreverem mensagens perseverantes na mesma parede. Claro que não demorou muito até que os comunistas se sentissem ameaçados, fazendo-os passar uma nova camada de tinta sobre a parede e deixando-a limpa. No dia seguinte porém, tudo era reescrito na parede, e essa tradição se prolongou. Felizmente, quem vai a Praga tem a oportunidade única de escrever na parede de John Lennon, onde é totalmente permitido e também encorajado.  




Quando você escreve só tem uma garantia: não vai durar muito tempo. Há mensagens de todos os tipos e de todas as formas. É inspirador. É uma metáfora. Tudo é passageiro. Todos querem fazer a diferença. Eu não ia deixar essa oportunidade de lado e logo fui pegando minha canetinha pra deixar uma mensagem, caso alguém viesse a ler ou não. Eu queria deixar um texto enorme agradecendo ao universo por esse ano incrível que está sendo 2013, mas como o espaço era pequeno preferi deixar outra mensagem.

Vai ser analfabeto assim lá longe. É "kombi".
Era o que tinha pra pegar carona, né?
Estão vendo a pequena kombi? Bem, eu estou lá.
Eu me senti parte da história por alguns segundos, minutos, horas, dias quem sabe. Eu fiquei gravado em Praga, e Praga ficou gravada em mim.


Não mais fugindo do Prague Castle lá cheguei e foi tudo muito rápido. Subi até a parte mais alta que é onde fica a St. Vitus Cathedral passei por lá, descansei um pouco e já comecei a descer novamente.


Prague Castle visto do Old Town Hall

O ângulo para tirar fotos da catedral é terrível porque ela é muito próxima de edifícios, daí é complicado tirar fotos dela completa, o que deu foi isso aqui.

Enorme!
Lá do Castelo você tem uma vista privilegiada da cidade. 

Estátua de Franz Kafka!
Estão vendo essa estátua atípica aqui em cima? Ela foi feita em homenagem ao escritor tcheco mais famoso, chamado Franz Kafka. Eu já devia ter ouvido falar dele, mas confesso que não tinha nenhum lembrança. Só essa estátua já chama atenção suficiente pra uma vida, só que com a breve descrição de um trecho de um dos vários livros de Kafka eu sinceramente fiquei absolutamente interessado. 

O tempo que eu costumava usar pra descansar a noite nos hostels virou caça à obra de Kafka em Praga. Eu consegui um pdf com praticamente todas as obras dele, e até li uma inteira, mas foi uma leitura confusa. Pra começar era em inglês, o que já dificulta, enquanto a leitura de Kafka tende a ser pesada e requer muita atenção. É bastante depressivo sim, mas é só não ler muito com frequência SHAUH


Mas a personalidade do ano mesmo em Praga foi Brinks. Nunca imaginei que Brinks realmente existisse e apenas estivesse descansando num banco em Praga. Essa cidade tem disso, misteriosa a cada esquina, surpreendente em cada banco.

Não demorou muito pra conhecer a personalidade forte de Brinks, e apesar de não ter um pé, ele adora tirar onda com isso. Quase me enganou quando fui tirar uma foto com ele.

Como assim meu pé é o pé de Brinks?
Outros fotos de praga.









Piadas sem graça a parte, Praga era a peça que faltava pra encaixar no meu quebra-cabeça da última eurotrip: Bratislava, Vienna e Budapeste. Detalhes me faziam lembrar de coisas que eu havia ouvido, e quanto mais eu andava, mais tudo fazia sentido. História é muito legal quando você pode pisar nos lugares e ir entendendo como tudo aconteceu ao mesmo tempo que presencia fatos e figuras.

Praga na minha cabeça vai ser sempre um sinônimo de invasão, seja dos conversíveis nas ruas, da burguesia no comércio ou apenas de Káfka na minha avidicidade literária. Terra de lendas intrigantes, abriga também histórias reais de heróis do comunismo, e a antiga tradição de arremessar políticos. E é só por precaução que eu nunca fico entre um tcheco e uma janela.


Confira outros destinos na seção Já fui.

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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Quem é Berlim?


Nome: Berlim/Berlin
País: Alemanha/Germany
Língua Oficial: Alemão
Moeda: Euro


Berlim era a típica criança mimada que já tinha tudo e mesmo assim queria mais. E por ter crescido com esse pensamento ganancioso, mais tarde acabou atraindo muitas más influências. Até teve seu período de sucesso (seja lá o que isso significasse) depois de passar por cima de muita gente, mas ainda assim queria mais. Tudo iam bem até que foi mexer com um grupo de valentões achando que ia se dar bem nessa disputa, mas acabou levando um surra das boas e todo o castelo de antigas conquistas revelou-se tão sólido quanto um de areia em maré alta. Humilhada, e sem forças pra se erguer sozinha, acabou recebendo uma ajuda forçada daqueles que um dia à trouxeram ao chão, com a promessa de que Berlim voltaria ao curso correto.

Como todo pai diria ao defender seu filho: "Coitada, não julguem assim tão mal alguém que por inocência confiou nas pessoas erradas." Claro que podemos encontrar pelo menos seis milhões de opiniões que divergem desta. Alguns anos depois, essa 'criança' talvez já pudesse caminhar sozinha com as próprias pernas, e com sorte faria melhores escolhas, mas pra que não ficasse dependendo só da sorte, quatro caridosos tutores de bom grado se ofereceram para compartilhar uma guarda. Dois destes tinham opiniões bem divergentes de que rumo Berlim deveria tomar, e esta acabou dividida sem saber para onde ir.

O clima foi esfriando e Berlim foi amadurecendo em alguns pontos mais do que outros, muitas vezes sem entender como havia chegado nessa situação em que duas partes de um só eram tão opostas. Determinada à reunir-se, com consciência própria derrubou um muro de limitações, alcançando algo que chamavam de independência. 

O importante é que Berlim deixou o que passou para trás, ou pelo menos tentou. Definitivamente tem muita história pra contar, mas prefere falar da orgulhosa juventude ao invés das travessuras da infância. Se você chegar a conhecê-la, verá que é inevitável não reparar nas cicatrizes que a marcam, em especial naquela vagamente circular. Porém, depois de um tempo, talvez você deixe de lembrar quem ela foi e comece a concentrar-se em quem ela está tentando ser.

Berlim é uma cidade em conflito, uma constante batalha entre o velho e o novo, pois mesmo depois de todo esse tempo, ainda não conseguiu se reerguer totalmente. O que um dia foram feridas de guerra, hoje são parte de Berlim totalmente novas em folhas. Uma colcha-de-retalhos em síntese. Isso é Berlim. Redimida. Prestando homenagens àqueles afetados por suas ações. Mas todo mundo merece uma segunda chance, não? 

Bem, eu sou Berlim. Prazer em te conhecer.

Chegando de trem em Berlim partindo de Amsterdã

O trem para Berlim foi bem lotado. Na verdade, não vi sequer um assento livre. Comprei o ticket pelo site Hispeed (https://treintickets.nshispeed.nl/) e me custou 39 euros. A ideia era que o trem durasse 6 horas e 20 minutos, mas acabou virando 7 horas e 35 minutos. Foi interminável, eu estava entediado, então recomendo levar algo para fazer, tipo um livro, ou um troço pra capotar e dormir. O trem saia da estação Amsterdam Centraal e chegava na estação Berlin Hbf. A estação de Amsterdã não tem mistério, como falei na postagem passada. A de Berlim é enorme, mas é conectada a um sistema de metrô. Supostamente havia um cara que deveria nos ajudar lá, mas ele nos deixou na porta de entrada do metrô e se mandou. Ele era muito enroladinho, coitado.

Felizmente haviam uns guardas que ajudaram a comprar o ticket na máquina, já que havia muitas opções. Como era só uma direção, o ticket Berlin AB 120 min basicamente te permite que circule nas zonas A e B nessa quantidade de tempo. Custou 2,40 e compramos numa maquininha já na plataforma do metrô. Antes de entrar tem que validar numa espécie de máquina que fica ao lado dessas onde se compra o bilhete.

Hostel

Depois de andar um trecho do metrô à pé porque estava em reforma, chegamos na estação indicada pelo City Hostel Berlin que não era a melhor para chegar no hostel. A estação era bem pequena, até porque lá em Berlim a cada quarteirão tem uma estação, então nessa não tinha mapa nem nada, nós não tínhamos internet e não fazíamos ideia de como chegar no hostel. Lá fui eu mendigar ajuda nas ruas de Berlim e ninguém sabia onde ficava a rua, ou simplesmente ajudava, até que bem na 5º tentativa uma alemã tirou o celular do bolso e procurou no google maps. Estávamos bem próximo ao hostel, mas sem ajuda nunca conseguiríamos chegar.

O hostel tem uma estrutura de hotel, mas as paredes entres os quartos são bem finas. As camas e os quartos são confortáveis e organizados. Os banheiros são escassos e invasivos. O café da manhã era bom. A internet também era boa. Valeu o preço que pagamos.

Roteiro

Nem adianta dizer que começo minha viagem no Free Walking Tour. Outra vez foi do Sanderman's. Se alguém estiver interessado, começa as 11 am ou 2 pm no Brandenburg Gate. O FWT cobre Pariser Platz, The Brandenburg Gate, The Reichstag, The Memorial to the Murdered Jews of Europe, The Site of Hitler’s Former Bunker, Luftwaffe HQ, The 17. June Memorial, The Berlin Wall, The Former SS Headquarters, Checkpoint Charlie, The 1920s Cabaret Mile, Gendarmenmarkt, Bebelplatz, The Old Royal Boulevard, Neue Wache, The TV Tower, Museum Island.

Pariser Platz e The Brandenburg Gate

O tour começou me ensinando como é séria a rixa entre a Alemanha e França. Quando Napoleão invadiu Berlim decidiu humilhar a cidade e tomar essa escultura que fica em cima do portão e levar para Paris. Dessa forma, a cidade seria eternizada pela derrota, porém antes dele conseguir concretizar tal plano foi derrotado na Batalha de Waterloo e Berlim reouve sua estátua. Estranho então a praça de chamar Pariser e mais ainda ter uma embaixada francesa nela.

A estátua trata-se da deusa da vitória, e na forma alemã de 'amar' a França decidiram trocar o nome dessa praça para Pariser Platz, para que a deusa da vitória estivesse sempre acima de Paris. ~profundo e vingativo~ Como se não bastasse, quando remontaram a estátua, surgiu um rumor de que a cabeça da deusa teria sido virada em direção à embaixada francesa. Eu como grande curioso especulador notei que realmente ela outra pra embaixada, só não sei se foi posta dessa maneira com esses objetivos.

Eu vim aqui a noite só pra tirar uma fotinha :)
The Memorial to the Murdered Jews of Europe

Depois do holocausto, obviamente a cidade de Berlim deveria arrumar um memorial digno a todos os judeus mortos, e assim o fizeram. Só que esse memorial é bem diferente daqueles que geralmente vemos por aí. O arquiteto Peter Eisenman criou essa obra porque queria que ela não passasse despercebida como geralmente acontece com contruções de objetivos semelhantes. Não precisou muito esforço criativo pra criar, eu acho, porque são basicamente blocos cinzas dispostos paralelamente mas que é algo genial. Não é lindo, não é extravagante, mas na minha concepção é perfeito para o objetivo designado.


Garanto que quem passa do lado não deixa de notar, seja pela milésima vez e se não conhece começa a se perguntar o que é aquilo. Se conhece com certeza começa a lembrar de toda a infeliz tragédia. Ou seja, objetivo accomplished. Eu sou fã de coisas simétricas e de formas geométricas, nem preciso dizer que foi um dos pontos mais interessantes da cidade para mim.

Vista da bandeira da embaixada americana e do parlamento alemão.
The Site of Hitler’s Former Bunker

Na diagonal do memorial à cima, fica o lugar em que Hitler suicidou-se. A menos que você saiba onde é e o que procurar, você talvez passe por esse lugar mil vezes sem saber o que aconteceu algumas décadas atrás. Por todo o "legado" de Hitler (na falta de uma palavra melhor), os alemães foram extremamente espertos e não deixaram um rastro sequer para que os ainda seguidores do nazismo pudessem de alguma forma reverenciar essa criatura que um dia teve seus pés na Terra. O lugar onde Hitler morreu é um estacionamento qualquer da cidade, mais um ordinário local onde as pessoas deixam seus carros e sua maior preocupação é encontrar um sombra de árvore.  

Checkpoint Charlie

Uma rápida introdução histórica. Pós segunda guerra, a Alemanha estava dividida, e Berlim também estava dividida. Só que o pedaço de Berlim que pertencia aos EUA ficava no pedaço da Alemanha que pertencia à União Soviética. Para ter acesso dessa 'ilha' com a parte da Alemanha que pertencia aos EUA, havia uma estrada que ligava ambos os territórios. Para medir a legalidade daqueles que queriam atravessar as fronteiras criaram os Checkpoints que são 3, cada uma com uma letra do alfabeto fonético da OTAN, o primeiro A (alpha), o segundo B (bravo) e o terceiro C (charlie).

Com isso já esclarecemos que essa placa ao lado do Checkpoint não é o Charlie como tem turista que se confunde. Eles colocaram de cada lado da placa um soldado vigiando o outro lado, apenas para simbolizar.


A famosa placa que avisa que você está entrando no território do
USA se estivesse indo naquela direção. claro.
Vista da sacada do Mc Donalds.
Pshiiiiiii. Tô escapando do Obama. OH WAIT...

Gendarmenmarkt

Há quem diga que essa é a praça mais linda da cidade. Ela é bem antiga e contempla o Konzerthaus (Casa de Concertos), Französischer Dom (Catedral Francesa), e Deutscher Dom (Catedral Alemã). Fica bem no centro da cidade e é fácil de chegar, com vários bares e restaurantes ao redor. Se você for no Natal em Berlim é lá que ocorre a feira de natal. Dizem que vale a pena.


Konzerthaus
Konzerthaus
Französischer Dom
Französischer Dom
Deutscher Dom
Bebelplatz


Essa praça - estou assumindo que você já sacou que platz significa praça - abrigou um dos mais tristes e simbólicos eventos nazistas onde 20.000 livros foram queimados por serem considerados inapropriados, nessa época a faculdade Humboldt era nazista, assim como todas as outras universidades. Após esse evento, foi construído um monumento na praça que é basicamente uma biblioteca subterrânea que chega ao solo através de um vidro e que poderia abrigar 20.000 livros, porém tem apenas prateleiras vazias. Mais um 'memorial' bem significativo. O mais intrigante é que tem uma epígrafe de uma obra de Heinrich Heine de 1820: "Das war ein Vorspiel nur, dort wo man Bücher verbrennt, verbrennt man am Ende auch Menschen" ("Aquilo foi somente um prelúdio; onde se queimam livros, queimam-se no final também pessoas"). Reflitam.


Mais uma vez Berlim tenta se redimir. A universidade que um dia organizou uma queima de livros, organiza uma venda de livros de alguma forma compensando.

Feira de livros da Humboldt University.


Museum Island

Como o próprio nome diz é uma ilha de museus. Uma 'ilha' porque o rio que passa em Berlim corta um trecho de terra em ambos os lados, formando um ilha. Lá ficam os museus mais importantes da cidade, então caso você esteja interessado nisso, já sabe pra onde ir.

Aparenta ser antigasso, mas tem uns 100 anos só.
Projetado pelo mesmo cara que projetou o Louvre.
The Reichstag

Saibam que pra subir nesse domo que fica no Parlamento Alemão é de graça o/ Isso mesmo. Na manhã do FWT o guia falou que era só entrar no site e agendar. Corri no site e vi que na manhã que a gente ia embora tinha uma vaguinha logo cedo, e fui! Tem até audio guide, tudo de graça e a estrutura é sensacional. Vocês podem se registrar aqui (https://visite.bundestag.de/BAPWeb/pages/createBookingRequest.jsf?lang=en). Eu achei bem legal, a vista é excelente e é de graça meu povo. 

Sabe porque esse domo existe? Ele é basicamente uma metáfora viva pra afirmar que a política alemã agora é tão transparente como o domo que cerca a estrutura. O domo fica diretamente acima da sala de parlamentares, e é como se um dia eles esquecerem quem os colocou eles ali basta olhar pra cima. :) Aí vai uma verdadeira sessão de fotos. 








Atrações fora do centro que valem a pena serem visitadas

Mesmo esquema. Vi tudo que dava pra ir a pé e chegou a hora de comprar um day ticket.

East Side Gallery


Quando Berlim oriental era cercada pelo muro, todo mundo queria derrubar, só que agora o que sobrou dele, todos querem preservar e por certos motivos. O espaço foi cedido a artistas que usaram os muros como telas, e mais que isso, numa forma de se expressar através disso. A East Side Gallery é um dos pedaços do muro que estão mais bem conservados. Aqui vão algumas das que mais gostei.




Alterada via Instagram pra virar minha predileta. :3
Elefantentor Zoologischer Garten Berlin 

Fui nesse zoológico só pelo portão, acreditam? Não tem nem o que explicar, a não ser que é o portão dos elefantes.



Olha a minha guitarrinha aqui!
Eu sendo eu. Pode?
Molecule Man

Essa seria uma escultura qualquer sem significado se ela não fosse também tão estranhamente legal. Dois caras no meio do rio meio que lutando. Valeu a pena ver. Notem ao fundo à esquerda um ponte, e à direita a Torre de TV.



Oberbaumbrücke

Essa é a ponte da foto acima. Antes de qualquer significado, eu adorei essa ponte à uma primeira vista por ser tão atípica. Ela é muito diferente e bonita ao mesmo tempo. Se o rio não tivesse cara de ser tão sujo eu até teria me aventurado a montar numa canoinha e me jogar nessas águas. sqn A ponte é um símbolo da união entre as duas Berlins que um dia foram separadas por um muro.


Coisas Aleatórias:

Essa tampa de bueiro era legal.
Não faço ideia do nome disso e nem o que seja, mas se tiver um email pra
mandar e for esse nome inteiro, melhor ir pessoalmente.
Achei mais um irmão do Urso que eu vi lá em Brastilava. Quem lembra?

Victory Column

Pra terminar com uma das atrações mais rápidas e intensas, escolhi a Victory Column. Começa prestando atenção na foto abaixo e veja que até chegar na estátua, a coluna tem quatro blocos. A cada vitória eles acrescentavam um bloco nessa coluna. Engraçado que o quarto bloco foi adicionado para representar a segunda guerra mundial, claramente antes da guerra acabar. Hitler estava tão confiante que iam ganhar que decidiu mandar acrescentar logo.


Se você pudesse chutar pra que direção do mundo essa estátua da vitória olha, que lugar você chutaria? Se respondeu França, acertou. Mais um indício da rixa entre os dois países. 

Vista do Reichstag

A questão é que é possível subir nessa coluna e eu cheguei lá faltando 10 minutos pra fechar. (Tem desconto pra estudante) A mulher não sabia falar tanto inglês, então escreveu num papel monstrando essa informação num papel, mas mesmo assim comprei o ticket, porque seria a minha única oportunidade. São 285 degraus, e a subida foi infinita embora eu subi correndo desesperado. Juro. Eu tava tonto, perdido, porque subi olhando pros meus pés/degraus com medo de cair. A máquina tava pendurada no meu pescoço porque eu não tive tempo de guardar, mas quando eu subi, só precisou eu achar essa vista pra pensar que tudo valeu a pena!


Eu precisei escrever essa postagem pra realmente entender o quanto eu gostei de visitar Berlim. Espero que tenha inspirado alguém ao menos a também ir lá. Abraço.

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