Caro "Reiron do dia 16 de Janeiro de 2014",
Hoje, cheguei na metade dessa incrível jornada. Fazem 6 meses que estou morando na Inglaterra. Que frase de peso não? Acho que nenhum de nós sabe muito bem como todo esse fascínio por Londres surgiu; talvez um documentário, um artigo, uma foto, uma história, um livro ou tudo isso junto. Você lembra quando achava que duas semanas na Inglaterra já era uma loucura impossível? Que você não teria dinheiro suficiente, inglês suficiente ou até coragem suficiente? Esse sonho virou um objetivo de vida, quando não um porto-seguro ou uma terra quase inalcançável.
Nada disso nos impediu de continuar acreditando. Foi quando na metade de 2010 entramos naquele projeto como bolsista e decidimos dar um melhor fim ao nosso dinheiro guardando-o numa poupança para uma causa maior. Era a primeira vez que tínhamos dinheiro para chamar de nosso. Fizemos a escolha certa, embora mal sabíamos quem nem precisaríamos disso no fim das contas.
Foi também lá em Campina Grande que nós decidimos finalmente entrar no inglês de verdade, sabendo que iríamos precisar dele mais cedo ou mais tarde. O tempo passou, assim como muitas coisas boas e ruins em nossa vida, mas uma permaneceu imutável: aquele desejo que nos consumia ao mesmo tempo que nos dava motivação para seguir em frente.
Então surgiu aquela oportunidade inesperada, boa demais para ser verdade: Ciências sem Fronteiras! Quer dizer que nós poderíamos morar na Inglaterra, melhorar nosso inglês e viver toda essa fantasia que sempre quisemos sem pagar uma moeda? Realmente dinheiro não foi a moeda mais valiosa que nós pagamos, mas sim o suor, o esforço e principalmente a vontade de fazer dar certo.
Fomos francos consigo mesmos desde o início. Eu não tenho o nível de inglês requerido para ir morar fora do meu país. Como vou recuperar todo esses anos perdidos de inglês em alguns poucos meses? Como é que eu, um ser que mal chegou na metade de um curso completo de inglês vai estar apto à passar numa prova do calibre do IELTS? Pra variar outra pergunta sem resposta, entre milhares. Mas o que nos restou foi tentar. Não uma tentativa qualquer, afinal as apostas estavam muito altas e você sabia tudo o que tinha a perder, ou melhor, tudo o que tinha a ganhar.
A data da prova chegou e com ela toda a ansiedade e angústia que a acompanhavam. Como não lembrar daquele listening, daquele claro momento em que você sabia que era tudo ou nada? Me responde: Você já conseguiu encontrar explicação para aquilo? De onde você tirou calma pra responder aquelas questões que se seguiam? Os dias pós-prova foram os mais agonizantes, com certeza. Precisávamos de um resultado, uma definição, fosse o que fosse, por mais que torcêssemos por algo positivo. E ela veio. Um feito para nossa memória, um orgulho de nós mesmos, um lembrete que dizia: Se você realmente quer, vai dar um jeito de conseguir.
A partir daí um balde de água fria. Muita burocracia, sufoco e mais obstáculos que uma prova de 100 metros com barreiras. Mesmo ainda com todos os problemas que aconteceram com Coventry University - uma parte que tende a passar despercebida nessa história por observadores - em nenhum momento desacreditamos que ia dar tudo certo e à isso eu chamo de fé. A firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos nesta ideia ou fonte de transmissão.
181 dias atrás chegávamos à Terra da Rainha com todos os medos e inseguranças à flor da pele. Será que eles vão me entender? Improvável. Será que EU vou entender eles? Mais improvável ainda. Foi entre diálogos hipotéticos intercalados por gargalhadas vazias que caímos no primeiro desafio: a nevasca. Maldita teoria da compensação. Nada vem fácil. Pra ter a vida que você sempre quis, vai ter que sofrer um bucadinho antes. Esse era o pensamento que não saía da minha cabeça.
O período de adaptação inicial que supostamente deveria ser turbulento, revelou-se tão prazeroso quanto uma montanha-russa. Todo dia era uma descoberta, uma surpresa, um espanto. Lidar com o clima foi definitivamente difícil no começo - entre hipotermias e escorregões na rua - mas no fim das contas, aprendi a conviver com o frio inglês e a busca incansável por dias de sol. E quando eles finalmente chegaram, eu confesso que já implorava pelo friozinho habitual.
A melhor parte chegou logo: as viagens. Conclui que eu nunca tinha feito uma viagem de verdade. Para se ter uma ideia, eu só conhecia o Nordeste, e a primeira vez que saí de lá foi pra ir tirar meu visto em Brasília. Dias depois, lá estava eu, um orgulhoso paraibano, fazendo minha primeira viagem internacional para nada menos que Londres.
Não demorou, e todo mundo já se animava para viajar pela Europa, e minha primeira oportunidade veio no Easter Break. Já fiz outra pequena viagem, e a próxima, vai ser o Mochilão dos Sonhos, com a duração maior que o dobro das duas. Viagem é aquela coisa, cansa dependendo do ritmo. Só que toda vez que me pergunto "Quando será que eu terei outra oportunidade de vir aqui novamente?" não quero ir devagarzinho não, quero aproveitar cada segundo. Na maioria das vezes, meu corpo cedia primeiro que minha razão e eu não tinha outra escolha senão descansar um pouco.
6 meses se foram, 6 meses virão. Se tudo de bom que eu já passei se multiplicar por 2, eu já vou estar satisfeito. Satisfeito mesmo estarei se conseguir riscar todos os lugares a serem conhecidos da minha infinita lista. Espero que você, o meu 'eu' do futuro, esteja realizado com toda essa conquista, e de preferência tenha uma visão ainda mais clara do depois. Vai que você arranjou uma forma de prolongar essa estada e eu estou apenas sofrendo com 6 meses de antecedência.
Hoje reflito sobre tudo que aconteceu nesse tempo que já passou, e tento entender por onde foi que esse tempo escapou tão rápido. As experiências vividas definitivamente contribuíram para tornar essa jornada cada vez mais intensa, um eterna busca por descobertas próprias. Eu não sou o mesmo de quando cheguei, e não partirei o mesmo que sou hoje. Francamente, é isso que me preocupa.
Hoje mais do que nunca, você deve lembrar que está voltando pras pessoas que tanto sentiu saudades. Não me entenda mal, o Brasil é um país sensacional, porém o que torna ele tão digno de falta são algumas pessoas. São aquelas que deixam meu cotidiano muito mais agradável, sendo passageiros talvez não do Expresso Londres, mas de outro double decker que eu venho dirigindo desde que nasci. Sinto saudade da família sim, dos amigos, da faculdade nem tanto. Uma parte de mim quer voltar.
A outra parte todavia gostou dessa vida diferente, de poder visitar novos países com uma facilidade imensa, de ser independente (ainda não do governo, mas enfim) até na cozinha e da sensação completa de liberdade. Talvez isso não seja nada mais do que praticar o verbo 'viver'. O problema é conciliar essas duas partes numa pessoa só.
Demorei um tempo maior que o usual para escrever isso tudo, começando pelo dia em que minha passagem de volta foi emitida. Acho que a incapacidade de adiar o ponto final desse intercâmbio me deixou extremamente melancólico e até sem palavras. Toda vez que eu retornava ao papel e lápis, eu nem sempre conseguia continuar de onde parei simplesmente porque estava feliz demais. Acessar essa nostalgia com um encerramento virou um paradoxo.
Não se preocupe com mais nada, apenas em responder uma pergunta: "Você está feliz agora"?
A melhor parte chegou logo: as viagens. Conclui que eu nunca tinha feito uma viagem de verdade. Para se ter uma ideia, eu só conhecia o Nordeste, e a primeira vez que saí de lá foi pra ir tirar meu visto em Brasília. Dias depois, lá estava eu, um orgulhoso paraibano, fazendo minha primeira viagem internacional para nada menos que Londres.
Não demorou, e todo mundo já se animava para viajar pela Europa, e minha primeira oportunidade veio no Easter Break. Já fiz outra pequena viagem, e a próxima, vai ser o Mochilão dos Sonhos, com a duração maior que o dobro das duas. Viagem é aquela coisa, cansa dependendo do ritmo. Só que toda vez que me pergunto "Quando será que eu terei outra oportunidade de vir aqui novamente?" não quero ir devagarzinho não, quero aproveitar cada segundo. Na maioria das vezes, meu corpo cedia primeiro que minha razão e eu não tinha outra escolha senão descansar um pouco.
6 meses se foram, 6 meses virão. Se tudo de bom que eu já passei se multiplicar por 2, eu já vou estar satisfeito. Satisfeito mesmo estarei se conseguir riscar todos os lugares a serem conhecidos da minha infinita lista. Espero que você, o meu 'eu' do futuro, esteja realizado com toda essa conquista, e de preferência tenha uma visão ainda mais clara do depois. Vai que você arranjou uma forma de prolongar essa estada e eu estou apenas sofrendo com 6 meses de antecedência.
Hoje reflito sobre tudo que aconteceu nesse tempo que já passou, e tento entender por onde foi que esse tempo escapou tão rápido. As experiências vividas definitivamente contribuíram para tornar essa jornada cada vez mais intensa, um eterna busca por descobertas próprias. Eu não sou o mesmo de quando cheguei, e não partirei o mesmo que sou hoje. Francamente, é isso que me preocupa.
Hoje mais do que nunca, você deve lembrar que está voltando pras pessoas que tanto sentiu saudades. Não me entenda mal, o Brasil é um país sensacional, porém o que torna ele tão digno de falta são algumas pessoas. São aquelas que deixam meu cotidiano muito mais agradável, sendo passageiros talvez não do Expresso Londres, mas de outro double decker que eu venho dirigindo desde que nasci. Sinto saudade da família sim, dos amigos, da faculdade nem tanto. Uma parte de mim quer voltar.
A outra parte todavia gostou dessa vida diferente, de poder visitar novos países com uma facilidade imensa, de ser independente (ainda não do governo, mas enfim) até na cozinha e da sensação completa de liberdade. Talvez isso não seja nada mais do que praticar o verbo 'viver'. O problema é conciliar essas duas partes numa pessoa só.
Demorei um tempo maior que o usual para escrever isso tudo, começando pelo dia em que minha passagem de volta foi emitida. Acho que a incapacidade de adiar o ponto final desse intercâmbio me deixou extremamente melancólico e até sem palavras. Toda vez que eu retornava ao papel e lápis, eu nem sempre conseguia continuar de onde parei simplesmente porque estava feliz demais. Acessar essa nostalgia com um encerramento virou um paradoxo.
Não se preocupe com mais nada, apenas em responder uma pergunta: "Você está feliz agora"?
Texto sensacional! Eu fiz o IELTS no último sábado e estou vivendo esses dias pós-provas agonizantes. Essa incerteza realmente é uma pedra no sapato, mas também tenho fé de que vai dar tudo certo. Uma das minhas opções é a Coventry University. Parabéns pelo blog, os post são ótimos!!!
ResponderExcluirMuito obrigado. Pois é Humberto, IELTS sempre essa desespero por um resultado. Boa sorte. Obrigado por acompanhar o blog. Abraço.
ExcluirReiron, quando abri seu blog e vi o título, já sabia que o texto ia ser bom. Terminei de ler o que estava lendo e comecei a ler seu post. Que ideia legal de escrever uma 'carta' pra você mesmo! Segunda vez que você me faz chorar com um post. Começo a entrar no texto e me imagino no seu lugar. Quero muito também conseguir participar no CsF. É uma ideia distante pra mim ainda, mas quero muito realizar meu sonho de estar em Londres. Ainda bem que você está aproveitando, amo quando sonhos se realizam e são aquilo que a gente queria que fosse.
ResponderExcluirSucesso nesses 6 meses que virão! Bjo
Ana Clara. Se eu não chorei quando estava escrevendo, talvez chore quando estiver lendo e indo embora. :/ Era uma ideia distante pra mim também, mas acabou que deu certo. Tomara que dê certo pra você também. Boa sorte. Obrigado pelo feedback. Abraço.
Excluir